A Bíblia é um livro que deve ser observado a partir dela mesma. Para se obter uma interpretação correta do texto bíblico é necessário seguir algumas regrinhas bem simples, mas que fazem muitas diferenças. Como diz o mestre em teologia e apresentador Leandro Quadros, “um texto fora do contexto vira pretexto.”
Quanto às regras para se compreender o texto bíblico eu vou escrever depois. Por enquanto, vou apenas mostrar alguns textos que são mal interpretados ou distorcidos mesmo, por ignorância ou má fé. Então vamos a eles:
Explicando a lei e os profetas duraram até João. Mateus 11:13
“Pois todos os Profetas e a Lei profetizaram até João”
Este texto é usado por aqueles que rejeitam o dom de profecia após Jesus Cristo. Entretanto, é impossível sustentá-lo por muito tempo, já que a tese morre na própria Bíblia. Observemos alguns detalhes.
1. O João a quem se refere o texto é João Batista e não João evangelista. Portanto, nada indica que João seria o último profeta. Aplicar o texto a João evangelista é má fé.
2. Os “Profetas” e a “Lei” eram uma referência aos Livros dos Profetas e à Torá. Eles haviam profetizado a vinda do Messias até João, uma vez que, vindo Jesus e se batizando no Jordão, não haveria mais necessidade desta profecia(a que se refere a vinda do Messias). O texto não tem nada a ver com o dom profético em si.
3. O novo testamento possui vários relatos de profetas e profecias. No Pentecoste (Atos 2:14-21); Ágabo (Atos 11:27-29 e 21:10-11) e as filhas de Filipe(Atos 21:09) são alguns exemplos.
4. O Apóstolo João ordena aos Cristãos testarem os profetas. Se não houvesse a possibilidade de haver profetas verdadeiros nos dias atuais, porque haveria a necessidade de testá-lo? Era só rejeitá-los. Veja 1 João 4:1-3
Existe uma ordem para profetizar pouco antes de Jesus voltar. Em Apocalipse 10:11, é dito que “importa que profetizes outra vez a muitos povos, nações e reis.” Este texto se insere no contexto da última pregação antes de Jesus voltar e, portanto, muito depois de João Batista.
Portanto, jamais utilize este texto para defender o indefensável. Este e outros textos bíblicos são usados para justificar diversas doutrinas, muitas sem qualquer fundamento.
Um texto bíblico usado por má fé: nada que entra pela boca torna o homem impuro Marcos 7:18-23
18 “Será que vocês também não conseguem entender?”, perguntou-lhes Jesus. “Não percebem que nada que entre no homem pode torná-lo impuro?
Porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, sendo depois eliminado.” Ao dizer isso, Jesus declarou puros todos os alimentos. E continuou: “O que sai do homem é que o torna impuro. Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e tornam o homem impuro”.
Texto fora do contexto
Este texto é utilizado pelos que defendem o consumo de carnes que a Bíblia considera imundas. Se você quiser entender melhor esta questão leia o artigo O Cristão pode comer carnes imundas? Como entender 1Corítios 10:25.
Por enquanto, vou explicar, resumidamente, porque este texto não pode ser utilizado para defender esta tese.
A questão inicial é o ritual de lavar as mãos antes das refeições, praticado pelos judeus e que foi ignorado pelos discípulos. Mais que uma questão de higiene, o ritual era para purificar o judeu da “imundície” de algum gentio que o poderia ter tocado. Jesus os condenou por se preocuparem em limpar as mãos e não o coração.
Como a discussão nã era sobre carnes imundas e puras, não se pode aplicar o texto ao que o texto não se aplica.
Quanto ao que entra não “contamina” só pode ser aplicado no contexto a que o texto se refere, a “impureza” ritual, que seria, para os judeus, o contato com um gentio. Se o texto estivesse se referindo a qualquer coisa que comemos estaríamos autorizados a comer substâncias venenosas. Entretanto, ninguém entende que pode beber veneno quando lê este texto.
Muito tempo depois Pedro afirmaria que jamais comido “coisa comum ou imunda( Atos 10:14), pois ele entendeu que Jesus não falava de carne.
Cada um dê conforme propôs no coração: 2 Coríntios 9:7
O último texto deste artigo é este: “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.” NVI
Certa vez ouvi um pastor pregar um sermão inteiro aplicando este texto à um suposto “segundo dízimo”. Isso mesmo, o pregador inseriu este texto numa nova teologia, que prega que o cristão deve entregar o segundo dízimo à igreja, embora a ideia de uma segunda doação era conhecida em Israel, o que não vem ao caso.
Segundo ele, porém, determinar no coração seria estabelecer um percentual fixo de oferta que deveria chegar a 10%. Isso fora os 10% do dízimo, que segundo o tal pastor, o dízimo não é uma doação, pois seria uma mera obrigação legal. O problema da pregação é que o texto não fala disso. Vejamos alguns pontos:
O capítulo 9 de 2 coríntios trata da “assistência aos santos” V.1
Paulo cita o Salmo 112:9, numa clara referência a doar aos pobres.
O verso 13 deixa claro que o ministério dos coríntios foi compartilhar os bens com os irmãos, e não encher o bolso de pastor.
Não sou contra a doação de ofertas. Mas infelizmente, muitos pastores não falam da importância de ajudar os outros. Para estes lobos, o rebanho é apenas para lhes fornecer a gordura e a lã. Sobre estes pastores existe uma profecia em Ezequiel 34:1-10, que você pode ler, se quiser. Que cada palavra desta profecia se cumpra.
Texto e contexto
Você não deve aplicar um texto fora do sentido a que ele se destina, a não ser por uma questão homilética. Usar um texto como base doutrinária é uma grande responsabilidade e requer coerência e estudo. Não se pode forçar a interpretação para justificar crenças pessoais.
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